domingo, 22 de maio de 2016

Mortinha da Silva


A poesia está morta
Porque não pode ser um produto para consumo de massa:
Heterogênea demais
Esquisita demais
Humana demais.
Como engarrafar esse vômito? Como embalar esse coração?

A poesia nem sempre é palatável
A poesia escorre sangue humano fresco
A poesia às vezes fede
Quem vai comprar isso?

Toda a contracultura foi massificada habilmente,
Mas a poesia não.
Culpa dos poetas, muito individualistas:
“Muito eu e pouco nós”
Diriam os comunistas.

E descubro boquiaberto que a massificação é comum a sistemas antagônicos como o capitalismo e o comunismo,
Mas à poesia não
(Hein? Revolução permanente? Ideia descabida daquele maluco...)
Por isso ela está morta. Coisa sem utilidade, sem mercado. Impalpável. Rebelde sem causa. Não se enquadra em nada. Quem ela pensa que é?
Você há de concordar: o que não tem mercado é cacareco.

Um feirante vendendo poesia vai comer?
“Minha senhora, um cacho de poesia fresquinho, só dois real, vai querer?”
“É de comer? Então não. E ainda vai me dar trabalho ler, moço, tenho mais o que fazer.”

A poesia está morta, do ponto de vista do capitalista e do comunista,
Ambos sempre em busca de padronizar algo, e da moça abordada na feira.
E o poeta é um tonto que perde seu tempo escrevendo versos que nada lhe renderão, sob o ponto de vista dos três.

É isso:
A poesia azeda a massa
Não se incorpora a ela
Não dá liga como a boa massa

Mas é pitéu para a traça
(Se isso lhe servir de consolo, seo nefelibata)

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